sábado, 3 de abril de 2010

O Asilo, a Páscoa e a Cruz













Vida e morte não se celebram juntas.

É filosoficamente incompatível.

Vou exemplificar.

Hoje visitei um asilo.

Assisti a fadiga humana em sua natureza mais triste – a velhice.

Homens consumidos pela vida aguardam passivamente a despedida final, o fechar das cortinas, o fim do espetáculo.

Não há aplausos. Quem passa na rua não acena.

Esses velhinhos vão se despedindo cabisbaixos, como que envergonhados de ainda estarem por aqui.

Se sentem intrusos.

Como se estivessem ocupando espaço ilícito.

Saem lentamente.

O tempo lhes foi terrivelmente utilitarista.

Após uso, os joga para fim de suas existências.

Havia uma criança no asilo, filha de funcionária.

Corria de braços abertos entre as cadeiras de rodas estacionadas de frente á televisão.

Tão repleta de vida, nem ligou para o cheiro de morte daquele lugar.

Num parque infantil ou praça pública, a cena até me faria sorrir.

Naquele asilo, o som de alegria pareceu maldade.

A expressão de vida destoava tanto que comecei a sentir o incômodo do contraste.

Queria tirá-la dali.

Afinal, vida e morte não se celebram num mesmo lugar.

É filosoficamente incompatível; a mistura é socialmente ultrajante.

Celebramos nesta semana um evento estranhamente parecido.

Celebramos a cruz.

Sim, festa e morte.

Exaltamos o escândalo.

A cruz é a fusão perfeita de tudo que é antagônico, paradoxal e incompatível.

Na cruz a vida e a morte se celebram no mesmo lugar.

O sentido disso é a obra divina.

No concílio do Deus trino, em séculos passados, ficou definido julgar o mal sobre um dEles.

O Filho se voluntariou.

O Espírito santo saiu para preparar ambiente.

O Pai aguardou o momento de selar o acordo judicial.

O plano seguiu.

O homem foi criado.

O homem caiu.

O homem se escondeu.

E quando encontrado, Deus iniciou o enredo que estava pronto desde o concílio.

O ‘descendente’ foi apresentado á raça humana em Gn 3:15.

Começando em Gn 8:21 e se seguindo por séculos á frente, Deus aspira o aroma suave do sacrifício do cordeiro.

Em Gn 22, pela primeira vez, cordeiro e sacerdote são revelados nas funções do Pai e do Filho.

Em Hb 10:5, nasce Jesus.

Ao entrar no mundo, para o lugar do sacrifício, um corpo.

Jesus no templo aos 12 anos, se vê no serviço do altar.

Noite pascal.

Sangue e vinho são símbolos da oferta.

Tipo e antítipo se encontram.

Caminho do Getsêmani.

A mão do grande Juíz se posiciona sobre a cabeça do cordeiro.

Inicia-se a transferência do pecado para julgamento.

O Filho sente terror.

Questiona: ‘vamos ainda seguir o plano?’.

A sorte da humanidade pende por um fio.

‘Seja feita a Tua vontade’, conclui.

A cruz.

O Pai oprime o filho com Seu juízo.

Pela primeira vez na eternidade, a divindade se separa por completo.

Pai e Filho sentem o corte.

Um deles morrerá.

O aroma do sacrifício começa a subir.

No céu, o Pai o aspira pela última vez.

Sua alma se encontra em paz.

Ao som de ‘em Tuas mãos entrego meu Espírito’, Cristo entrega Sua vida original.

Deus morre.

A raça vive.

Assunto encerrado entre o Pai, Filho e Espírito.

O calvário é o mistério de Deus.

Será a nossa ciência por eras eternas.

Toda a sabedoria divina se concentra na cruz.

E toda a glória divina da cruz emana.

Nela, vida e a morte são celebradas no mesmo lugar.

Presente e futuro estão unificados.

Deus e homem estão perfeitamente religados.

Para sempre!

Seja sempre celebrada a cruz de Cristo!

2 comentários:

  1. ESSA COMPARAÇÃO É DE ARREPIAR .
    UMA CRIANÇA CHEIA DE VIDA EM UM ASILO COM CHEIRO DE MORTE.
    A VERGONHA DA VELHICE. SENTIR-SE UM INTRUSO, NÃO MAIS DIGNO DE VIVER.

    PECADO E SALVAÇÃO EM UM MESMO LUGAR.
    A VIDA PRESA A MORTE.
    OBRIGADO JESUS.

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  2. Gostei muito , pena nao te-lo lido antes. Deus seja louvado por esta inspiraçao Pr. Jonas.

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